Quando falamos em música gótica, um nome que imediatamente vem à tona é o Joy Division. Formado em 1976, em Manchester, cidade da Inglaterra, o grupo durou poucos anos mas deixou profundas marcas na história do rock alternativo. Sua atmosfera nublada, carregada de drama e angustia, segue atual, traduzindo sentimentos que ultrapassam gerações.
Após assistirem uma explosiva apresentação do Sex Pistols no Lesser Free Trade Hall, em Manchester, no dia 20/07/1976, os amigos Bernard Sumner (guitarra e teclado) e Peter Hook (baixo) decidiram montar a sua própria banda. Depois, juntaria-se ao grupo o vocalista Ian Curtis e, mais tarde, o baterista Stephen Morris completaria o time. A banda foi batizada de Warsaw (Varsóvia, em português), nome inspirado na música "Warszawa" do David Bowie.
Após assistirem uma explosiva apresentação do Sex Pistols no Lesser Free Trade Hall, em Manchester, no dia 20/07/1976, os amigos Bernard Sumner (guitarra e teclado) e Peter Hook (baixo) decidiram montar a sua própria banda. Depois, juntaria-se ao grupo o vocalista Ian Curtis e, mais tarde, o baterista Stephen Morris completaria o time. A banda foi batizada de Warsaw (Varsóvia, em português), nome inspirado na música "Warszawa" do David Bowie.
O Warsaw fez suas primeiras apresentações em 1977. Posteriormente, as músicas do grupo seriam lançadas extraoficialmente no registro conhecido como The Warsaw Demo. O Warsaw era uma típica banda de punk rock. Porém, como já existia outra banda punk londrina chamada Warsaw Paket, eles decidiram mudar o nome do grupo para Joy Division. O nome fazia referência a uma casa de prostituição existente no livro "The House of Dolls". A "casa das bonecas" designava a área reservada às prisioneiras judias que eram oferecidas sexualmente aos soldados nazistas.
O primeiro lançamento oficial do Joy Division foi o EP An Ideal for Living (1978). Suas quatro faixas tinham força, identidade e já indicavam o novo direcionamento artístico da banda. Tinham um pé no punk, mas continham significativos elementos do chamado pós punk (destaque para No Love Lost e Leaders of Men). Durante uma apresentação, o grupo chamou atenção do empresário Tony Wilson e eles foram contratados para a sua gravadora independente, a Factory Records.
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A capa do EP trazia um membro da Juventude Hitlerista tocando um tambor. Essa capa e seu título ("um ideal para a vida"), assim como o nome da banda, geraram rumores sobre uma possível simpatia do grupo ao nazismo. Na época, inclusive, neonazistas chegaram a frequentar alguns shows - que, não raro, eram interrompidos por brigas com a própria banda. Posteriormente, os músicos negaram qualquer simpatia ao regime hitlerista. Alguns justificaram que era apenas uma admiração estética, um fascínio mórbido. O fato é que a estética punk buscava o choque, desconstruindo símbolos e imagens. O dadaísmo e o artista visual John Heartfield são algumas influências nesse processo de desconstrução estética.
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O primeiro álbum do grupo foi lançado em 1979. Apresentando um pós punk cinzento, urbano e urgente, Unknown Pleasures conquistou seu espaço, cativando a atenção de público e crítica. A voz soturna de Curtis complementava perfeitamente a atmosfera opressiva. Martin Hanett, empresário da banda, descreveria o trabalho do Joy Division como "música dançante, com tonalidades góticas" - sendo um dos primeiros a usar o termo "gótico" para definir um estilo musical. Não por acaso, eles seriam classificados - mesmo que retroativamente - como um dos "fundadores" do chamado rock gótico.
A emblemática arte da capa se tornou um ícone pop, até hoje estampando diversos produtos. Apesar de inúmeras teorias, a figura representa a leitura de ondas de rádio emitidas por um pulsar que captava a morte de uma estrela. Um clássico!
Ainda em 1979, eles lançaram seu primeiro single: Transmission - que se tornaria um dos maiores "hits" do Joy Division.
As apresentações do grupo eram intensas e a mística em torno do Joy Division era impulsionada pela performance de Ian Curtis. Além de seus gestos e danças peculiares, o cantor sofria de epilepsia e não raro tinha crises durante os shows.
As apresentações do grupo eram intensas e a mística em torno do Joy Division era impulsionada pela performance de Ian Curtis. Além de seus gestos e danças peculiares, o cantor sofria de epilepsia e não raro tinha crises durante os shows.

A banda ganhava relevância e reconhecimento. Contudo, apesar do sucesso, o quadro clínico de Ian seguia piorando. Sua depressão e epilepsia se agravaram, e seu casamento se deteriorava a cada dia. Não é exagero dizer que muitas letras pareciam ser um desabafo, um grito de desespero e angustia. O desfecho: Ian Curtis cometeu suicídio em 18/05/1980, aos 23 anos e um dia antes da viagem do grupo para os Estados Unidos, onde fariam sua primeira turnê intercontinental.
Com várias faixas finalizadas, os lançamentos foram mantidos. Pouco após a morte de Ian, foi lançado o single Love Will Tear Us Apart - com a faixa homônima que se tornaria a mais popular da banda. O título dessa música também se encontra no epitáfio do túmulo de Curtis, no cemitério de Macclesfield, alvo de peregrinação de muitos fãs. Ainda em 1980, foi lançado o póstumo segundo álbum: Closer. Na capa, um jazigo do cemitério italiano de Staglieno anuncia o tom fúnebre e denso do disco. O enredo trágico acabaria consolidando o Joy Division como uma emblemática expressão do gótico na música.
Vídeo de Love Will Tear Us Apart, o unico feito pelo grupo:
Houve ainda outros lançamentos póstumos, como coletâneas, sobras de estúdio, registros de shows e regravações. Alguns meses depois do suicídio de Ian, os outros membros do grupo formaram o New Order, com um som gradativamente mais comercial e acessível. Bernard Summer assumiu os vocais (no início até mesmo tentando emular o vocal de Ian Curtis) e a tecladista Gillian Gilbert, namorada de Stephen Moris, foi incorporada ao grupo. Apesar de trilharem um caminho mais voltado ao synthpop / new wave, os primeiros trabalhos tentaram manter o espírito sombrio do Joy Division. O primeiro álbum - Movement - é carregado de referências a Ian Curtis (uma faixa, inclusive, leva o nome de ICB - Ian Curtis Buried).
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Joy Division: Um conjunto que revolucionou o rock alternativo. Um grupo que ditou as bases do pós punk e que levou adiante a promessa de renovação estética e cultural do punk para direções artisticamente mais ambiciosas. Praticamente todas as canções possuem personalidade e maturidade, conseguindo ser perturbadoras e ao mesmo tempo belas e emocionantes.
A tragédia e os mistérios em torno do Joy Division e, sobretudo, da figura de Ian Curtis, se tornaram foco de filmes, documentários e livros. Até os dias de hoje o grupo segue sendo revisitado, com novos olhares artísticos sobre a sua obra.
Recomendações:
"Control" (2007), filme que traz um resumo fiel da trajetória do grupo, com foco na vida de Ian Curtis. Emocionante.
"Control" (2007), filme que traz um resumo fiel da trajetória do grupo, com foco na vida de Ian Curtis. Emocionante.
"Joy Division" (2007), documentário com depoimentos exclusivos e muitas curiosidades.
"Touching from a Distante" (1995), livro escrito pela viúva de Ian, Deborah Curtis.
Lembranças e confissões do ponto de vista de uma mulher que amou e sofreu calada, longe dos holofotes.
Lembranças e confissões do ponto de vista de uma mulher que amou e sofreu calada, longe dos holofotes.
Definitivamente, Ian Curtis foi o melhor letrista do rock, junto com Bob Dylan, Lou Reed, Johnny Rotten, Joe Strummer, Jello Biafra e Marcelo Nova. O Joy Division fez a perfeita trilha sonora de Mancheester, em toda a sua atmosfera industrial: sufocante, depressiva, fascinante.
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